Ele vagava solitário pelo ermo, um vazio sem cor, sem dimensão alguma. Em sua mente, conflitos indecifráveis, caos e dor. Entretanto, a fé o movia de um lugar a outro sem explicação, sentia que era necessário. Quando um ponto de luz surgiu em direção ao infinito, um entusiasmo inebriante o tomou e ele se direcionou com reais expectativas. Por um tempo incontável ele caminhou e perseverou, sem perder o foco iluminado. Ele não sabia ao certo o que esperar, contudo, uma intuição o fez seguir em frente, pois, vagar por vagar tornava a sua existência inútil e essa era a sua única certeza.
No tempo determinado, ele tocou a luz, ela não possuía forma ou cheiro. Diante do toque, uma esfera energizada se abriu, um portal para outra dimensão, talvez um novo ermo, porém, aquela luz fez corar a sua face pálida. Sem temor algum, ele atravessou o portal de luzes fluorescentes. Ainda sem os seus sentidos, ele surgiu no fundo de um lago, com águas límpidas e paz, ali a paz retornou, era como estar no ventre da mãe. Em sua essência, a paz e a fé se uniram. Sentiu que não precisava de mais nada, permaneceu. Após um novo tempo imensurável, ele descobriu que poderia sair das águas e deixar para trás aquela paz que, de certa maneira, o aprisionava.
Um novo ermo surgiu com cores e seres distintos da sua essência, porém ao caminhar ele notou um rastro que ficava onde os seus pés tocavam, eram poças de águas transparentes como o lago, como a paz que ele acreditou ter deixado para trás. Então, ele percebeu que cada etapa o transformava significativamente e que nada era perdido, tudo se somava. Ele sentiu a fé mais forte do que nunca, a paz em quantidade necessária para não aprisionar e descobriu que a sua essência absorvia fragmentos do que lhe fazia realmente bem.
Publicação jornal Fatos & Notícias ES.


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