Peregrinos

 


     A travessia de um deserto árido e mortal pode ter vários significados para quem vive essa experiência. Naquela noite, eu despertei próximo a uma cobra do deserto que se camuflava por baixo das areias finas. Ela estava ali sorrateira, como o próprio mal que nos cerca.

    Sem maiores danos para nenhuma das partes, seguimos caminhos opostos. Por dias enfrentei o sol escaldante daquele deserto, com o meu corpo tampado até os olhos. O oxigênio emanava um vapor que queimava as narinas. Não havia alimentos, não havia vida, além da minha. Perseverei diante do nada, segui sem saber o que me esperava. Nas noites mais geladas, diante do céu mais estrelado que já presenciei, senti uma dor maior do que a própria fome, era a solidão, aquela sensação de não existir um caminho seguro, um lugar para chegar ou mesmo alguém para encontrar.

    No percurso daquela peregrinação exaustiva, após uma colina de areia, eu vi diante dos meus olhos um lugar com uma vegetação exuberante, animais que viviam felizes ali. No centro daquele espaço quase surreal. Havia uma figura feminina que se assemelhava a um anjo. Diante do anjo, uma fila de peregrinos como eu. Em tudo aquilo havia um propósito que eu não enxergava. Entrei na fila, sedenta por água. Quando chegou a minha vez, fui abençoada com um copo da água de uma fonte infinita, era a água da vida. O anjo me entregou. Sentei para tomar e descansar, observando a fila que nunca reduzia. Após um tempo, me senti completamente renovada em corpo e espírito. Foi quando o anjo me disse: — Vá e conte isso a Israel.

    Uma luz me tomou com determinação e bom ânimo. Percebi que poderia enfrentar novamente cada metro daquele deserto mortal. Compreendi o meu propósito, compreendi sobre o amor que muitas vezes duvidei. Perseverei de uma maneira mais focada, pois a luz que emanava da minha essência, desvendava diante dos meus olhos o lindo propósito de avisar a todos que o deserto que enfrentamos é o caminho para a verdadeira fonte da vida.

 


 

 

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