Casa antiga

 



 

Entre as melhores lembranças, existe uma casa, não qualquer casa, mas aquela que meus antepassados viveram, ela carrega a marca do suor em cada parede e cada pedaço que ainda se mantém de pé. Hoje, as ruínas a revestem de um modo melancólico, contudo, os meus olhos a veem em auge e glória. Em partes das recordações que guardo, ouço os gritos das crianças e vejo cada brincadeira feita no quintal. Consigo até sentir o cheiro do café que a mamãe preparava ao som do cantar do galo, Zezé, nas madrugadas gélidas de inverno. A fartura era uma dádiva exposta na mesa do café matinal, bolinhos de chuva e o aroma da canela, batatas e milhos-cozidos. Só de lembrar, sinto a minha boca salivar.

O fogão a lenha permanecia aceso por cada segundo do dia e de fato era o melhor aquecedor que tínhamos. Até mesmo as recordações das baratas que invadiam as janelas me fazem sorrir de um jeito que somente a saudade pode compreender. Na escada de madeira clara, estão intactos os três degraus que rangiam. Ao caminhar pelo lugar, fiz questão de conferir se o ruído foi mantido pelas décadas, e ele ainda me causava arrepios.

A casa antiga é um lar, pois o amor ainda reside ali. Entre a velhice e rachaduras nas paredes, entre o mofo que se tornou um musgo, é possível sentir o cuidado da presença materna e a força da paternidade do meu pai. Ao caminhar na casa antiga, hoje vazia e silenciosa, confesso que a saudade faz doer o coração, contudo, ainda reside aqui um ar de felicidade que somente quem viveu pode relatar o valor dessas ruínas.

 

 

 

 

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