O menino

 


           O calor da noite o fez pular pela janela estreita da sua casa e correr para o seu destino mais apropriado. Seus pés eram astutos como os de um gato de rua, buscando alimentos pela madrugada. Seus olhos sorrateiros captavam qualquer movimento ao seu redor. A escuridão não lhe causava medo. O suor escorria por sua pele reluzente e, no brilho dos seus olhos, havia somente uma imagem. Era exatamente o que ele buscava ao correr pelas ruas de terra batida do bairro onde morava.

            Ninguém nunca o veria fazendo o mal, em seu coração pulsava o amor e o cuidado por aquela comunidade, os seus pais não se preocupavam com seu instinto animal e audacioso. O menino era livre de corpo e alma, ele vivia o seu presente, ele o construía a cada novo nascer do sol. Sem olhar para o passado e muito menos almejar o futuro, a felicidade lhe batia a porta a cada novo projeto diário, a cada novo destino apropriado para aquele momento.

            Incansável naquela noite sem luar, ele tocou o seu destino com a sola do seu pé esquerdo. Ali, diante do mar escuro, calmo e infinito, ele adentrou com toda sua ansiedade juvenil, aplacando o calor demasiado que sentia em seu quarto. Ao nadar de um lado a outro, sozinho nas águas turvas e quentes, ele iniciou uma contagem de estrelas que o fez se acalmar.  Logo começou a flutuar o seu pequeno corpo sobre a mansidão do mar. Para o menino, cada estrela significava uma vitória diária, uma nova descoberta e a cada noite nasciam mais e mais estrelas em seu céu de um vislumbre único, inocente e admirável.

 

 

 


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