O medo


“Um homem ofegante corria pelas escadas e corredores de uma empresa multinacional. Suas palpitações descontroladas o faziam perder o fôlego, ele só queria sair do local onde estava cumprindo a inspeção noturna. Com suas mãos suadas, ele não ousava olhar para trás e nem mesmo para os lados, parar não era uma boa opção. Ao chegar ao seu destino, seu uniforme estava molhado de suor, o pavor saltava dos seus olhos.

            — O que houve, amigo? Parece que viu um fantasma! — perguntou o companheiro de trabalho, assustado com a feição do rapaz.

            — Não consigo falar, só um minuto! — O homem sentou-se na primeira cadeira e buscou a sanidade ao respirar profundamente.

            Após alguns minutos, o homem, mais calmo, olhou pensativo para o colega de trabalho e pensou se deveria contar o que havia ocorrido. Preferiu ficar em silêncio por mais um tempo.

            — Vamos, diga logo o que aconteceu para chegar aqui daquela maneira?

            — Se eu contar, não vai acreditar em mim.

            — Agora estou curioso, conte por favor.

            — Cara, isso fica entre nós, ok.

            — Tranquilo, pode contar tudo.

            — Enquanto eu estava conferindo os medidores como fazemos sempre, vi um homem de preto se aproximando, ele surgiu do corredor e achei que fosse você, na hora foi tudo muito estanho. Porém, o pior ainda estava para acontecer, ele veio em minha direção como se eu não existisse, ele olhava para baixo e não pude ver o seu rosto, apenas notei uma palidez incomum. Quando se aproximou eu parei e fiquei observando e ele veio diretamente em minha direção, sem me olhar, nem mesmo se desviou para um lado ou outro, senti um frio tomar conta do ambiente e passou por mim, passou dentro de mim e seguiu o seu caminho sem parar, até entrar na mata de preservação nos fundos da empresa. Foi a pior sensação que já senti na minha vida. Depois, eu corri de lá o mais rápido que consegui.

            — Não acredito, isso é brincadeira!

            — Verdade, era um espírito.

            — Ninguém mais vai querer fazer a medição externa durante a madrugada.

            — Não conte para ninguém. Vamos seguir normalmente a rotina de trabalho, tanto de dia quanto no turno da noite.

            A história se espalhou pela empresa e, nos dias que se seguiram, o supervisor do turno da noite precisou acompanhar cada medição externa, pois nenhum funcionário teve a coragem de cumprir a função, sozinho. ”


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